Redação - 2ª Fase - Dia 1 - Fuvest 2025

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Texto 1:

“Rubião, de cabeça, subscreveu logo uma quantia grossa, para obrigar os que viessem depois. Era tudo verdade. Era também verdade que a comissão ia pôr em evidência a pessoa de Sofia, e dar-lhe um empurrão para cima. As senhoras escolhidas não eram da roda da nossa dama, e só uma a cumprimentava; mas, por intermédio de certa viúva, que brilhara entre 1840 e 1850, e conservava do seu tempo as saudades e o apuro, conseguira que todas entrassem naquela obra de caridade”.

Machado de Assis. Quincas Borba. Capítulo XCII.

Texto 2:

As associações de indivíduos da mesma espécie constituem inumeráveis sociedades. Assim como as relações sociais, a vida é constituída por simbioses – associações duráveis e reciprocamente proveitosas entre seres de espécies diferentes.

Edgar Morin. Fraternidade. Para resistir à crueldade do mundo. Adaptado.

 

Texto 3:

“Já estávamos em Uidá havia quase duas semanas quando comecei a perceber como o Akin era esperto e inteligente. Ele conhecia quase todos os donos das lojas, pois de vez em quando fazia alguns trabalhos para eles, como limpar o chão, levar recados ou entregar encomendas. Foi dele a ideia de andar comigo e com a Taiwo pelas lojas e pedir presentes em nome dos Ibêjis [assim são chamados os gêmeos entre os povos iorubás], qualquer coisa, desde que não fizesse falta (...). Quando voltamos para casa, foi porque não conseguíamos mais carregar todos os presentes que ganhamos, e a minha avó novamente ficou brava, mas, no fundo, acho que gostou. A Titilayo riu e disse que éramos mais espertos do que ela imaginava, mas que não devíamos fazer aquilo novamente porque os tempos estavam difíceis e as pessoas poderiam não ter o que dar. Como ninguém gostava de recusar presentes aos Ibêjis, acabavam gastando o que não podiam ou se desfazendo do que precisavam, sem contar que ainda tinham que economizar dinheiro para quando começasse a época das chuvas, em que quase não havia movimento no mercado, nem o que vender ou colher, e faltava trabalho para muita gente. Os rios e lagoas transbordavam, engolindo as terras e os caminhos e dificultando os negócios. O Akin disse que então só pediríamos nas casas dos ricos, dos comerciantes que vendiam gente e moravam do outro lado da cidade. O Ayodele, que tinha voltado dos campos de algodão, avisou que não era para irmos lá de jeito nenhum, pois eles nos colocariam dentro de um navio e nos mandariam como carneiros para o estrangeiro”.

Ana Maria Gonçalves. Um defeito de cor.

Yhuri Cruz. Ibeji, 2022. Museu de Arte do Rio.

Texto 4:

O mundo produz alimentos mais do que suficientes para erradicar a fome. Coletivamente, não nos faltam conhecimentos nem recursos para combater a pobreza e derrotar a fome. O que precisamos é de vontade política para criar as condições para expandir o acesso a alimentos. À luz disso, lançamos a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e saudamos sua abordagem inovadora para mobilizar financiamento e compartilhamento de conhecimento, a fim de apoiar a implementação de programas de larga escala e baseados em evidências, liderados e de propriedade dos países, com o objetivo de reduzir a fome e a pobreza em todo o mundo. Nós convidamos todos os países, organizações internacionais, bancos multilaterais de desenvolvimento, centros de conhecimento e instituições filantrópicas a aderir à Aliança para que possamos acelerar os esforços para erradicar a fome e a pobreza, reduzindo as desigualdades e contribuindo para revitalizar as parcerias globais para o desenvolvimento sustentável.

Declaração de Líderes do G20. Rio de Janeiro, 2024. Brasil. Adaptado.

 

Texto 5:

“Mas se você achar
Que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não para
Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta”.

Cazuza. O tempo não para.

Texto 6:

“Porque – guarde isto! – porque o homem, por mais ignorante que seja, por mais cego, por mais bruto, gosta de ser tratado como gente.”

Ruth Guimarães. Água funda.

Considerando as ideias apresentadas nos textos e outras informações que julgar pertinentes, redija uma dissertação, na qual você exponha seu ponto de vista sobre o tema: As relações sociais por meio da solidariedade.

Instruções:

  • A dissertação deve ser redigida de acordo com a norma padrão da língua portuguesa.
  • Escreva com letra legível e não ultrapasse a quantidade de linhas disponíveis na folha de redação.

Comentário:

A partir da frase “as relações sociais por meio da solidariedade”, a Fuvest provoca os candidatos a refletirem sobre as ideias apresentadas na coletânea de textos motivadores e, com base nisso, exige a produção de uma dissertação argumentativa na qual uma tese (coerente com a proposta) seja defendida. Para que a frase temática seja devidamente contemplada nessa dissertação, é preciso considerar, portanto, o que os textos motivadores expressam, mas também é necessário relacionar isso aos conhecimentos de mundo do próprio candidato, de modo tanto a respeitar como a extrapolar a abordagem da coletânea. Além disso, mais especificamente em relação à frase temática, a própria articulação entre “sociedade” e “solidariedade” também é obrigatória – esta última podendo ser entendida como “caridade”, “ajuda”, “contribuição”, “parceria”, “colaboração” e afins, de acordo com a banca avaliadora. Isso porque a desconsideração de qualquer uma dessas ideias configuraria abordagem tangente do tema solicitado. Dessa forma, espera-se que os candidatos analisem como se dá a expressão de ações solidárias no meio social em que vivemos, a partir das perspectivas apresentadas nos seis textos motivadores, bem como de outros conhecimentos próprios sobre qualquer das partes da frase temática. 

Com relação à coletânea, foram fornecidos quatro textos de cunho literário (1, 3, 5 e 6) e dois não-literários (2 e 4). Esses dois apresentam, respectivamente, uma visão filosófica e um exemplo concreto sobre solidariedade. Ao passo que o Texto 2 a destaca como natural do ser humano e a caracteriza como ferramenta para a nossa sobrevivência, o Texto 4 traz a declaração de líderes do G20 (na reunião ocorrida em novembro de 2024 no Rio de Janeiro) para enfatizar objetivamente a necessidade de mobilização coletiva para o enfrentamento de um problema global urgente – a miséria.  

Entre os textos de teor literário, tem-se, no Texto 1, uma provocação a respeito da ideia de usar a caridade como meio de ascensão social. Vale lembrar que, em Quincas Borba, Machado de Assis constrói uma crítica à sociedade brasileira da época, em que frequentemente mascaravam-se interesses particulares sob o manto da solidariedade, refletindo relações marcadas pelo interesse e pela conveniência, nas quais o auxílio ao próximo era condicionado por vantagens sociais e/ou econômicas. O próprio protagonista do romance pode ser uma representação dessa hipocrisia. Como típico da obra machadiana, embora essa narrativa esteja situada no Brasil de meados do século XIX, sua atualidade é nítida.  

No Texto 3, excerto de Um defeito de cor, a riqueza descritiva contribui para um ponto de vista cultural sobre o tema, uma vez que faz referência à tradição iorubá de oferecer presentes aos Ibejis (figuras especialmente ligadas ao mundo espiritual nessa cultura) como forma de assegurar equilíbrio e harmonia, tanto material como espiritual. O trecho citado do romance de Ana Maria Gonçalves aponta para a influência de fatores econômicos em ações solidárias, uma vez que, por mais importantes que os Ibejis sejam naquela cultura, as doações têm limites impostos pelas dificuldades econômicas das personagens. Assim, evidencia-se como as condições materiais podem afetar a prática da solidariedade, o que demonstra a complexidade de atitudes solidárias em situações de escassez. 

Já no Texto 5, encontra-se um trecho da canção de Cazuza “O tempo não para”. Metaforicamente, esses versos se remetem à solidariedade como uma forma de vida. Por um lado, embora de modo mais genérico, essa letra pode ir ao encontro do Texto 4 quanto à tese de que ajudar o próximo é essencial para o funcionamento social; por outro, pode se alinhar também ao Texto 1, isto é, pode ser compreendida como uma crítica à hipocrisia social, em que atitudes de aparente generosidade muitas vezes carregam desprezo ou interesses ocultos; nesse sentido, a canção revelaria a ambiguidade das interações solidárias em contextos de desigualdade.  

O Texto 6, breve trecho do romance Água Funda, reitera a tese de uma postura colaborativa para a garantia de dignidade como algo essencialmente humano. No excerto, lê-se que as condições de ignorância, limitação ou brutalidade não anulam a essência humana de alguém. Sendo assim, a solidariedade não deve ser seletiva nem condicionada a quem a mereça, e sim universal.  

Então, a partir das interpretações de cada texto motivador e das relações traçadas entre eles, os candidatos conseguiriam estabelecer conexões com seus conhecimentos de mundo e desenvolver uma argumentação que analisasse a solidariedade em meio à sociedade contemporânea. Se, por um lado, nossa sociedade acaba por estimular que indivíduos tentem usar a solidariedade como forma de ostentação para agir em benefício da própria imagem e de uma autopromoção, isso não muda a necessidade de posturas genuinamente solidárias para o enfrentamento das questões mais urgentes da contemporaneidade (como a desigualdade social e as catástrofes socioambientais), nem para a própria constituição da subjetividade humana. Como exemplo de raciocínio argumentativo que atende a essa expectativa da Fuvest 2025, é possível conferir a redação elaborada pela professora e coordenadora do curso Poliedro (São Paulo), Maria Clara Betti, publicada na CNN Brasil: https://www.cnnbrasil.com.br/educacao/professora-escreve-redacao-com-tema-da-fuvest-2025-leia-modelo/

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