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Sem alternativas
As questões de 17 a 19 referem-se ao texto a seguir:
Texto 2
1 Em frente da minha casa existe um muro enorme, todo branco. No Facebook, uma postagem me chama a atenção: é um muro virtual e a brincadeira é pichá-lo com qualquer frase que vier à cabeça. Não quero pichar o mundo virtual, quero um muro de verdade, igual a este de frente para a minha casa. Pelas ruas e avenidas, vou trombando nos muros espalhados pelos quarteirões, repletos de frases tolas, xingamentos e erros de português. Eu bem poderia modificar isso.
2 "O caminho se faz caminhando", essa frase genial, tão forte e certeira do poeta espanhol Antonio Machado, merece aparecer em diversos muros. Basta pensar um pouco e imaginar: de fato, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar.
3 De repente, vejo um prédio inteiro marcado por riscos sem sentido e me calo. Fui tentar entender e não me faltaram explicações: é grafite, é tribal, coisas de difícil compreensão. As explicações prosseguem: grafite é arte, pichar é vandalismo. O pequeno vândalo escondido dentro de mim busca frases na memória e, então, sinto até o cheiro da lama de Woodstock em letras garrafais: "Não importam os motivos da guerra, a paz é muito mais importante".
4 Feito uma folha deslizando pelas águas correntes do rio me surge a imagem de John Lennon; junto dela, outra frase: "O sonho não acabou", um tanto modificada pela minha mão, tornando-se: o sonho nunca acaba. E minha cabeça já se transforma num muro todo branco.
5 Desde os primórdios dos tempos, usamos a escrita como forma de expressão, os homens das cavernas deixaram pichados nas rochas diversos sinais. Num ato impulsivo, comprei uma tinta spray, atravessei a rua chacoalhando a lata e assim prossegui até chegar à minha sala, abraçado pela ansiedade aumentada a cada passo. Coloquei o dedo no gatilho do spray e fiquei respirando fundo, juntando coragem e na mente desenhando a primeira frase para pichar, um tipo de lema, aquela do Lô Borges: "Os sonhos não envelhecem" - percebo, num sorrir de canto de boca, o quanto os sonhos marcam a nossa existência.
6 Depois arriscaria uma frase que criei e gosto: "A lagarta nunca ensou em voar, mas daí, no espanto da metamorfose, Ihe nasceram asas...". Ou outra, completamente tola, me ocorreu depois de assistir a um documentário, convencido de que o panda é um bicho cativante, mas vive distante daqui e sua agonia não é menor das dos nossos bichos. Assim pensando, as letras duma nova pichação se formaram num estalo: "Esqueçam os pandas, salvem as jaguatiricas!".
7 No muro do cemitério, escreveria outra frase que gosto: "Em longo prazo estaremos todos mortos", do John Keynes, que trago comigo desde os tempos da faculdade. Frases de túmulos ganhariam os muros; no de Salvador Allende está consagrado, de autoria desconhecida: "Alguns anos de sombra não nos tornarão cegos." Sempre apegado aos sonhos, picharia também uma do Charles Chaplin: "Nunca abandone os seus sonhos, porque se um dia eles se forem, você continuará vivendo, mas terá deixado de existir".
8 Claro, eu poderia escrever essas frases num livro, num caderno ou no papel amassado que embrulha o pão da manhã, mas o muro me cativa, porque está ao alcance das vistas de todos e quero gritar para o mundo as frases que gosto; são tantas, até temo que me faltem os muros. Poderia passar o dia todo pichando frases, as linhas vão se acabando e ainda tenho tanto a pichar.... "É preciso muito tempo para se tornar jovem", de Picasso, "Há um certo prazer na loucura que só um louco conhece", de Neruda, "Se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarzinho", cravada por Mário Quintana...
9 Encerro com Nietzsche: "Isto é um sonho, bem sei, mas quero continuar a sonhar", que serve para exemplificar o que sinto neste momento, aqui na minha sala, escrevendo no computador o que gostaria de jogar nos muros lá fora, a custo me mantendo calmo, um olho na tela, outro voltado para o lado oposto da rua. Lá tem aquele muro enorme, branco e virgem, clamando por frases. Não sei quanto tempo resistirei até puxar o gatilho do spray.
Adaptado de: ALVEZ, A. L. Um muro para pichar. Correio do Estado, fev 2018. Disponível em <https://www.correiodoestado.com.br/opiniao/leia-a-cronica-de-andre-luiz-alvez-um-muro-para-pichar/321052/> Acesso em: ago. 2018.
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